quinta-feira, 15 de julho de 2010

Voz passiva e concordância

Voz passiva e concordância

Por Thaís Nicoleti

Não se vê avanços em áreas como a ampliação de aeroportos.”

O trecho acima apresenta uma estrutura sintática extremamente familiar aos falantes do português do Brasil. Trata-se do uso do pronome “se” como índice de indeterminação de sujeito de um verbo transitivo direto, coisa que, segundo a norma culta, não ocorre.

Quando o verbo é transitivo direto (como “ver”), na presença do pronome “se”, o seu objeto se converte em sujeito apassivado. No trecho acima, esse sujeito apassivado é o termo “avanços” – avanços não são vistos.

A percepção da voz passiva é mais clara quando ela se apresenta em sua forma analítica (algo é visto) do que quando se apresenta na forma sintética (com o pronome “se” e o verbo na forma ativa: vê-se algo). Daí muitos falantes ignorarem a estrutura passiva com pronome “se”, confundindo-a com a estrutura de indeterminação do sujeito.

Na prática, havendo voz passiva, haverá sujeito e, havendo sujeito, haverá concordância verbal. Assim: não se vê avanço (avanço não é visto) e não se veem avanços (avanços não são vistos).

A voz passiva só ocorre com verbos que admitem o objeto direto. Os demais podem ser construídos com o índice de indeterminação do sujeito e, nesse caso, ficam na terceira pessoa do singular. Assim: “Trata-se de avanços no setor”, “Morre-se de frio nesta sala”, “Era-se mais feliz antigamente” etc.

Abaixo, a correção da frase em epígrafe, considerando a nova ortografia do português:

Não se veem avanços em áreas como a ampliação de aeroportos.