quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Slides de Critérios de Custeio

Slides do Professor Auri Marconi Diniz sobre sistema de acumulação de custos e Critérios de Custeio.

Critéio do Custo por Absorção,

Critério do Custo Direto (ou variável).

Faça seu Download...

terça-feira, 28 de setembro de 2010

A Disciplina de música ajuda na inclusão social

Já utilizada em algumas escolas, a disciplina de música ajuda na inclusão social

THIAGO AZANHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

No segundo semestre de 2011, entra em vigor uma lei que torna obrigatório o ensino de música nas escolas públicas e particulares do país. O objetivo da determinação, no entanto, não é formar músicos, mas sim que os alunos adquiram o conhecimento da linguagem musical e ampliem sua formação artística, diz Yvelise Freitas de Souza Arco-Verde, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação.

Na escola estadual Romeu de Moraes (zona oeste de São Paulo), o ensino de música já é usado como instrumento de inclusão social. As aulas incluem fanfarra, teatro, dança e até um coral de libras --em que os alunos "encenam" a música com as mãos. Único deficiente auditivo da turma, Marcelo José da Silva Macedo, 14, conta que fez amigos no coral e que hoje se sente mais integrado.

"O colégio viu na música um bom elemento para unir os estudantes e despertar neles a vontade de permanecer no ambiente escolar, além de desenvolver talentos e liderança", afirma a diretora da escola, Rosângela Valim.

Outro aluno que sentiu a diferença que a música fez na sua vida escolar foi Antonio Manta Neto, 13, que toca bateria na escola de samba Águia de Ouro. Antes visto como um aluno de temperamento difícil, seu comportamento mudou quando ele levou a música para a escola, em junho deste ano. "A diretora percebeu que eu gostava de tocar e me convidou para coordenar a banda da escola."

Todas as atividades são desenvolvidas com o apoio dos Parceiros da Educação, associação sem fins lucrativos que promove parcerias entre empresas e escolas da rede pública de São Paulo.

FINS SOCIAIS

Na rede privada, grande parte das escolas também usa a música com fins pedagógicos e sociais. "Trabalhar a música com diversas disciplinas e eixos temáticos explora as capacidades cognitivas dos estudantes. É um elemento a mais para desenvolver o indivíduo e sua relação com o outro", diz Gisele Milani, professora da Viva (zona oeste).

Nas aulas de ciências do 3º ano do fundamental, quando os rios são estudados, os alunos tocam instrumentos que reproduzem o som da água. Melhoria da concentração e respeito em relação aos colegas são outros bons resultados originados pela musicalização nas escolas.

A professora Suely Lerner diz que, no colégio Dante Alighieri (zona oeste), a música é vista como uma linguagem para desenvolver a socialização, a memória, o raciocínio e a improvisação.

Essa última habilidade é colocada em prática, por exemplo, em um exercício em que um aluno começa a tocar um instrumento e os outros o seguem, um por vez, mantendo o ritmo da melodia que o primeiro iniciou.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Educação.

Estratégias Múltiplas

Características e necessidades regionais exigem a adoção de um cardápio variado de soluções para a educação brasileira. No entanto, não é possível negligenciar o que não é priorizado.

Em época de campanha eleitoral, a educação volta à cena de duas maneiras aparentemente contraditórias: como solução para as grandes questões do Brasil e como um problema que permanece. É nesse cenário que surgem as promessas de grandes mudanças e de superação dos históricos gargalos e entraves de atendimento e aprendizagem.

A experiência, contudo, demonstra que, muitas vezes, as respostas para os desafios da Educação Básica brasileira passam bem longe da retórica e dos discursos generalizantes. Em todo o país, escolas e redes de ensino têm realizado ações concebidas a partir de necessidades e características específicas.

Um dos fatores que possibilitam isso é a implantação, ocorrida nas duas últimas décadas, de instrumentos diagnósticos como o Censo Escolar, Prova Brasil, Saeb e Ideb, que permitem perceber particularidades regionais. Com suas características e objetivos específicos, eles fornecem um retrato do país, das redes estaduais e municipais, chegando ao nível mais micro das escolas e dos alunos. Evidenciam avanços, mudanças, bem como deficiências e desafios a serem enfrentados.

Assim, quem atua no dia a dia das escolas e dos sistemas de ensino sabe que não existem fórmulas prontas ou globais, mas que as mudanças e melhorias são construídas no cotidiano e, por isso, os caminhos a serem percorridos não são (e não devem ser) os mesmos.

O problema que se coloca no Amazonas não é o mesmo do Rio Grande do Sul. No primeiro estado, as longas distâncias e a dificuldade de locomoção remetem à necessidade de se implementar estratégias que assegurem que o aluno chegue à escola e tenha condições de frequentá-la. Investir na educação a distância foi a saída encontrada pela secretaria estadual de Educação.

No Rio Grande, as avaliações mostraram fragilidades na aprendizagem de língua portuguesa e matemática no final do primeiro ciclo do ensino fundamental. Então, o foco da Secretaria de Estado da Educação local foi fortalecer a alfabetização das crianças, por meio de um programa que combina a oferta de três métodos distintos de alfabetização às escolas, com capacitação de professores e acompanhamento contínuo.

A diversidade de estratégias e modos de atuação também caracteriza municípios que estão conseguindo melhorar seus indicadores, segundo um estudo realizado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Uma das estratégias em Palmas, capital do Tocantins, se deu no campo do financiamento: foi criada uma rubrica específica para a educação, o que gerou um aumento de 2% do montante aplicado na área entre 2005 e 2006, chegando a 27,3% do orçamento municipal naquele ano.

Em São João do Sabugi, município de 6 mil habitantes no Rio Grande do Norte, o prefeito nomeou uma secretária para cuidar exclusivamente da educação após o mau desempenho no Ideb de 2005 (2,1). A gestão exclusiva apostou em novas práticas de planejamento na áreas administrativa e pedagógica. Em 2007, o resultado foi 4,4 e em 2009, 5,3.

Desafios e prioridades
A diversidade de práticas, caminhos e soluções se delineia a partir do mapa construído por meio da Prova Brasil e do Saeb. Ele sinaliza para alguns problemas centrais: a precariedade da aprendizagem (que tende a ficar mais evidente conforme os alunos avançam na escola) e a desigualdade entre as regiões e, muitas vezes, dentro do próprio sistema de ensino. "A desigualdade está no nosso DNA", constata o coordenador do Grupo de Avaliação e Medidas Educacionais (Game), Francisco Soares, que também leciona na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

"São vários pacientes com vários tipos de doenças", complementa Mozart Ramos Neves membro do Conselho de Governança do movimento Todos pela Educação. "Não há equidade no diz respeito à aprendizagem. São vários brasis", conclui.

Análise realizada pelo movimento demonstra, por exemplo, que na região Norte, 13,1% dos alunos têm desempenho adequado à série em que estudam nas avaliações do MEC, enquanto no Sul e no Sudeste, a proporção chega a 31,6%. Tais números, além de revelarem as discrepâncias regionais, apontam para a necessidade urgente de se investir em ações para promover a aprendizagem, já que apenas uma minoria sabe o mínimo esperado.

Embora os indicadores sejam ruins, as avaliações sinalizam para uma "progressiva e lenta melhora" principalmente nos anos iniciais do fundamental, analisa a educadora Guiomar Namo de Mello. Isso é bom, mas remete a um questionamento: "O que isso realmente significa em termos de aprendizagem? Alguns municípios atingiram 6 ou 7 no Ideb, mas, mesmo que cheguemos a esse patamar, nós não seremos a Finlândia", provoca.

"Enquanto estamos perseguindo o nível dos países desenvolvidos, estes já estão trabalhando com um patamar mais avançado." Ou seja, nesse passo e norteando-se apenas por índices, a educação brasileira não vai dar o salto de qualidade necessário. "O foco tem de ser a melhoria, não o simples cumprimento da meta", conclui Guiomar.

A ênfase nos índices também remete ao problema da desigualdade, pois de maneira geral eles traduzem uma média (da rede de ensino, de uma escola) que não traduz a situação das pontas, os melhores e os piores. "Muitos municípios têm uma boa média, mas há uma ou duas escolas que não estão bem. O Ideb do município não vai mostrar isso, mas é fundamental que o gestor olhe e trabalhe com estas escolas. O objetivo é a educação de qualidade para todos", defende Francisco Soares, da UFMG.

É por isso que, na opinião da coordenadora de Educação do Unicef, Maria de Salete Silva, toda e qualquer ação tem de ter como foco a redução das desigualdades - seja entre os alunos de uma mesma escola, seja entre as escolas de uma mesma rede. "As redes de ensino são, na verdade, redes de aprendizagem. Então, não interessa se o sistema atinge a meta, mas não reduz as desigualdades."

Considerando esse cenário, organização, estruturação e planejamento surgem como palavras-chave. Isso envolve diversos aspectos relacionados às ações para melhorar a aprendizagem e o desempenho dos alunos, como o fortalecimento da gestão, o aprimoramento da formação e das condições de trabalho dos professores e a melhoria do currículo.

No que diz respeito às prioridades do momento atual, os especialistas ouvidos destacam o fortalecimento da alfabetização, a correção da distorção idade-série, a qualificação dos professores, a ampliação do tempo de atividades, a melhoria da qualidade da aprendizagem e as mudanças curriculares. A lista não para por aí: o aumento do volume de recursos destinados à educação e a melhoria da qualidade do gasto, além da continuidade das políticas em diferentes governos, também são desafios mencionados.

Embora os problemas e desafios sejam muitos e bastante diferentes entre si, não basta atacar alguns aspectos isoladamente. "Não há nenhuma ação isolada que resolva o problema da educação do Brasil", afirma a
coordenadora Salete, do Unicef.

Alfabetização
Fazer com que as crianças sejam efetivamente alfabetizadas até nos dois primeiros anos do ensino fundamental é um desafio central. Sem isso, não se consegue melhorar a aprendizagem, nem garantir a permanência do aluno na escola. Por isso, as ações voltadas para a melhoria da alfabetização estão entre as prioridades das redes estaduais de ensino de Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

"Mesmo com os resultados apresentados nas avaliações oficiais, a aprendizagem da língua escrita na escola ainda está num nível muito baixo", analisa Magda Becker Soares, professora titular emérita da UFMG, especializada no tema.

Para ela, o problema tem origem na falta de clareza do que se entende por alfabetização. Até os anos 1980, considerava-se alfabetizado o aluno que sabia ler e escrever, ou seja, sabia codificar e decodificar. "Isso dava tranquilidade para o professor avaliar se a criança estava alfabetizada ou não."

Com a mudança para o conceito de letramento - que pode ser sintetizado na capacidade de utilização da leitura e da escrita -, alargou-se o entendimento do que é alfabetização, que se diluiu em várias competências e habilidades. A professora Magda aponta que esse processo está relacionado às demandas sociais de nossa sociedade, que é centrada na escrita, e às recentes descobertas no campo da linguística e da psicologia cognitiva sobre os processos de aprendizagem e uso da linguagem escrita.

Nesse cenário, ela vê como positiva a iniciativa da secretaria estadual de Educação do Rio Grande do Sul, onde foi implantado um programa que prioriza a alfabetização, por meio da oferta de três tipos de métodos que podem ser escolhidos pelas escolas, acompanhado de formação e assessoria às escolas.

A rede estadual de Minas Gerais é outra que dá atenção especial à questão da alfabetização. Há quatro anos, foi implantado um programa para fortalecê-la e assegurar que todas as crianças tenham domínio dos processos básicos de leitura e escrita até os 8 anos.

O coordenador do Grupo de Avaliação e Medidas Educacionais também considera que a falta de clareza sobre o que é alfabetização prejudica a aprendizagem, mas pondera que independentemente do método adotado e dos critérios de avaliação do professor é importante trazer para o debate público a questão da redução das metas relativas ao domínio da leitura e da escrita.

Na opinião de Soares, a meta de que a criança esteja alfabetizada aos 8 anos é "pouco desafiadora". "Seria importante trazer para o debate público a discussão da mudança desse patamar para os 7 anos", postula. Para ele, essa discussão deve se vincular a uma "ênfase maior na alfabetização". "Se a criança não aprende a ler, terá dificuldade a vida toda."

Soares também enfatiza a necessidade de reforçar a aprendizagem em matemática. "Esta é uma linguagem que faz parte da sociedade moderna e as escolas costumam dar pouca ênfase ao conhecimento matemático".

Reforma curricular
O currículo é outro nó a ser desatado. Essa é a questão que se coloca nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio. Guiomar Namo de Mello, que integrou o Conselho Nacional de Educação no final dos anos 1990 e foi relatora das Diretrizes Curriculares do Ensino Fundamental, avalia que parte das dificuldades existentes hoje nessa área - e que acarretam, por exemplo, a elevada evasão de alunos - está relacionada à maneira como as mudanças curriculares foram implementadas à época.

Reavaliando a história, ela considera que o país viveu um período de anomia, referindo-se à opção feita pelo Ministério da Educação de então de distribuir os novos parâmetros curriculares diretamente às escolas. "Hoje, vejo que talvez tivesse sido melhor trabalhar os parâmetros com as secretarias estaduais e municipais, que cuidariam de especificar o currículo."

Declarando-se contra um currículo nacional, Guiomar reitera que os profissionais das escolas tiveram de lidar com drásticas mudanças em curto espaço de tempo, saindo de um currículo excessivamente fragmentado para um contexto de grande abertura para definir o quê e como ensinar. O resultado foi indefinição. "Acabaram usando os parâmetros como currículo quando, na verdade, eles devem funcionar como uma indicação."

Passada essa fase e diante dos resultados das avaliações oficiais, o momento é de formatar currículos com mais clareza dos objetivos e metas a serem alcançados. Francisco Soares segue a mesma linha de raciocínio e defende que o currículo seja estruturado. É nesse contexto que ambos veem como positiva a adoção de sistemas de ensino prontos e fechados, elaborados por grupos privados, pela rede pública de ensino - o que já vem acontecendo em algumas localidades do Estado de São Paulo.

Os currículos polivalentes, em que um único professor assume disciplinas afins, são outra possibilidade, na visão de Guiomar. Isso ocorre em algumas escolas particulares, como o colégio Vera Cruz de São Paulo.

Na rede pública, esse tipo de iniciativa não é tão comum, mas já começam a surgir iniciativas, como a da rede estadual de São Paulo que, com base nos resultados das avaliações locais, implantou novos padrões curriculares e definiu um novo currículo para o ensino fundamental.

Mas mexer no currículo de maneira isolada não é a solução; na verdade, os analistas consideram que a qualificação do professor pode fazer a diferença, mesmo que o currículo seja inadequado. "Se o professor fosse mais bem formado, teria condições de trabalhar melhor o currículo e os conteúdos", analisa Soares.

Formação de professores
A qualificação e as condições de trabalho do docente são encaradas como o ponto central a ser atacado para que a educação brasileira consiga avançar na qualidade.

"É preciso reconhecer que é necessário encarar de maneira séria a questão do docente", afirma o professor da USP, Romualdo Portela. No campo da formação, ele defende a melhoria da qualidade dos cursos de pedagogia. No campo da carreira, o foco deve ser a melhoria geral das condições de trabalho. "E não adianta utilizar as políticas de estímulo por meio de bônus. À luz do direito da educação, qualquer ação tem de ser voltada para todos."

A melhoria dos cursos envolve um conjunto de ações, no sentido de mudar o foco da formação e valorizá-la. "Os cursos de pedagogia estão muito atrasados em relação à cultura do mundo do trabalho do século 21. O professor tem de aprender a fazer, não a reproduzir", propõe o professor Portela.

Além da qualidade da formação, Mozart Ramos Neves considera problemático o acesso aos cursos de nível superior, principalmente no Norte e no Nordeste. "No Sul e no Sudeste, os profissionais acabam tendo mais acesso à formação, ainda que ela não seja a ideal. Isso não ocorre no Amazonas, por exemplo, onde a educação a distância é utilizada para formar docente, além de facilitar o acesso de crianças e jovens à Educação Básica."

Neves também aponta a necessidade de fortalecer as políticas e ações de nível nacional para a formação docente, como já ocorre por meio do Plano Nacional de Formação de Professores de Educação Básica (Parfor). Embora o sistema ainda não esteja funcionando a pleno vapor, em locais como a Bahia, onde a situação é crítica - 80% dos 93 mil professores das redes municipais não têm formação - a iniciativa está dando bons resultados.

O quadro de precariedade da formação se replica em outras regiões: no Mato Grosso, o município de Colniza - que integra o grupo de municípios de menor Ideb do país e por isso recebem assessoria do MEC mediante a formulação do Plano de Ações Articuladas (PAR) - também está se valendo do Parfor e outros programas do governo federal para fortalecer a formação docente. O município também se comprometeu a realizar concurso público para regularizar a situação dos professores. Lá, dos 168 professores da rede, somente 48 são efetivos.

Gestão e recursos
Sem dinheiro e planejamento muito pouco se pode fazer em educação. "Não tem como separar gestão de financiamento", afirma o coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara. O recado vale principalmente para os municípios. "Muitos municípios têm uma arrecadação muito baixa e dependem dos repasses e recursos do governo federal, seja via Fundeb, salário-educação ou programas do PDE."

Assim, não se trata apenas de ampliar a arrecadação: a questão é como os recursos são utilizados. O município de Castro, no Paraná, teve o terceiro maior avanço do Ideb em 2009 no estado, resultado que os dirigentes locais atribuem à chamada gestão em rede e ao planejamento das ações em articulação com as demandas e necessidades da área pedagógica, entre outras iniciativas.

Palmas, no Tocantins, ao aumentar as verbas para a educação, conseguiu um avanço significativo no Ideb entre 2005 e 2007. Medidas destinadas a aprimorar o fluxo, como os programas de correção de distorção idade-série, adotados em várias partes do país, como no Estado do Tocantins, colaboram para uma melhor gestão dos recursos.

Melhorar o planejamento ajuda, mas ainda assim é necessário aumentar o volume de recursos para a educação, defende o professor Portela, da USP. "O Brasil aplica 4,7% do PIB, pouco menos do que os Estados Unidos. A diferença é que os Estados Unidos têm um sistema estável e nós ainda não. Temos necessidades enormes a suprir", avalia.

Por isso, na visão dele, seria necessário que o país assumisse uma postura semelhante à a da Coreia, que investiu 10% do PIB em educação durante duas décadas e conseguiu se tornar uma das potências mundiais nesse campo. "O Brasil investe pouco e mal", sintetiza.

Fonte: UOL Educação - Revista Educação, edição 161.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Mulheres ganham até 51% menos que homens

Mesmo pós-graduadas, mulheres ganham até 51% menos que homens


Os salários entre homens e mulheres têm diferenças de até 51%, segundo pesquisa da Catho Online. Mesmo com pós-graduação, as remunerações continuam diferentes. O levantamento envolveu 164 mil entrevistados de 20 mil empresas no país.

Na comparação entre sexos ocupando o mesmo cargo, a pesquisa aponta que os homens ganham mais que as mulheres em todos os níveis, com destaque para a gerência, onde eles ganham, em média, 51,6% a mais que as mulheres, seguido do operacional (50,7% mais) e técnico (37,5% mais).

No cargo de direção, a diferença chega a 35,5% a favor do homem e, no cargo de supervisão, de 32,2%.

Apesar de ainda ganharem menos que os homens, no quesito escolaridade as mulheres possuem indicativos maiores que os eles: 63,7% das mulheres têm ensino superior -- 44,2% são graduadas e 19,5% pós-graduadas. No caso dos homens o percentual é de 55,3% --38% com graduação e 17,3% com pós.

'Mesmo as mulheres se preparando tão bem para o mercado de trabalho, elas ainda possuem salários menores. Observamos grandes diferenças salariais tanto para cargos operacionais como gerenciais, ou seja, as diferenças ainda ocorrem de forma expressiva em vários níveis hierárquicos', aponta Silvana Di Marco, gerente da Pesquisa Salarial.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

"Pais são espelhos para os filhos"

Uma reflexão...

Pai...

=> Não me dês tudo o que te peço.

Às vezes meus pedidos querem apenas ser um teste, para ver o quanto posso pedir.

=> Não grites comigo.

Eu ti respeito menos quando o fazes; e me ensina a gritar também, e eu não quero fazer isso.

=> Não me dês ordens a todo momento.

Se, em vez de mandar, algumas vezes externasse teus desejos sob forma de pedidos, eu o faria mais rapidamente e com mais gosto.

Autor desconhecido.

Fonte: Revista Construir Notícias.

domingo, 19 de setembro de 2010

42,6% dos analfabetos têm mais de 60 anos

No Brasil, 42,6% dos analfabetos têm mais de 60 anos

Ana Okada
Em São Paulo

Dentre o contingente de 14,1 milhões de analfabetos do país, 42,6% têm mais de 60 anos de idade. Em dez anos, houve aumento de 8,2 pontos percentuais nos analfabetos desta faixa etária. Os dados foram divulgados na Síntese de Indicadores Sociais, feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) com base na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) 2009.

Dentre as mulheres analfabetas, quase metade (48,7%) tem mais de 60. Já entre os homens, os mais velhos representam 36,3%. A diferença entre gêneros se acentua no interior do país, uma vez que, lá, a população masculina vive menos tempo que a feminina.

A proporção de analfabetos entre 40 a 59 anos aumentou pouco: de 34,5% em 1999, eles foram para 35,5% em 2009. Já dentre jovens de 15 a 24 anos houve queda no analfabetismo: em 1999, eles eram 10,1% do contingente; em 2009, foram para 4,6%. A população de 25 a 39 anos teve menor redução na taxa, que foi de 21,1% para 17,4%.

Escolaridade x alfabetização

A maior proporção de analfabetos maiores de 60 anos pode ser reflexo do aumento de escolaridade da população, com o maior tempo de permanência na escola. A população de 10 anos ou mais de idade atingiu em 2009 7,2 anos de estudo, o que representa um aumento de 0,6 ano em relação a 2004, de acordo com a Pnad 2009.

A maior média de anos de estudo foi a de pessoas de 20 a 24 anos (9,6 anos), sendo 10 anos de estudo para as mulheres e 9,3 anos para os homens.

O analfabetismo caiu 0,3 pontos percentuais entre pessoas com 15 anos ou mais. Em 2008, a taxa era de 10%; em 2009, foi para 9,7%. Segundo dados da pesquisa, a maioria dos analfabetos (92,6%) está concentrada no grupo com mais de 25 anos de idade.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O desafio da inclusão escolar

O desafio da inclusão escolar

Por Içami Tiba

A inclusão escolar é uma recomendação baseada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96.


Fica a pergunta: Qual a população que já está excluída da escola e que necessita desta recomendação?


É a população formada por pessoas que não conseguiram ser matriculadas por apresentarem diferentes deficiências (visuais, auditivas, da fala, mentais etc) que dificultassem o aprendizado regular. São as pessoas deficientes visuais, auditivas, mentais etc., que necessitam de recursos especiais para o aprendizado natural, apresentado pela maioria da população.


A lei acima tem boa intenção, pois muitos cadeirantes estão excluídos não pela dificuldade de aprendizado, mas de locomoção. Assim como a sociedade ainda é deficiente para atender as demandas dos cadeirantes, a escola também é, pois não apresenta condições físicas satisfatórias, tais como banheiros e refeitórios adaptados ou rampas e facilitações de acesso que possibilitem o seu direito de ir e vir sem depender de terceiros. O descaso de cidadãos sem ética nem civilidade que não respeitam nem as demarcadas vagas de carros a cadeirantes também ocorre na escola. Ou não seria o caso desta exclusão já existir na escola? Há deficiências físicas, como a de voz, a visual e a auditiva, em que as pessoas que as têm apresentam inteligência compatível com o aprendizado escolar, mas necessitam de ajuda de terceiros ou de recursos especiais para o seu aprendizado. Muitas escolas teriam que se adaptar para receber os cadeirantes para não exigir demais a ajuda de terceiros. Acredito no desenvolvimento da cidadania e civilidade de todos os envolvidos na inserção do cadeirante.


Uma sociedade deveria ter a possibilidade de atender a todos os tipos de deficiências. Isso poderia ser feito também na escola, para benefício inclusivo em salas de aula, desde que também houvesse pessoas e/ou recursos auxiliares extras, como a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) para surdo-mudos, leitura Braille para cegos etc. Uma pessoa com deficiência deveria freqüentar uma escola regular, desde que contasse também com professores especialmente capacitados.


Para que a citada recomendação fosse à prática diária dos professores em sala de aula seriam necessárias no mínimo duas medidas iniciais:

  1. Acabar com a cultura da expulsão do aluno da escola e da sala de aula. As autoridades pedagógicas que usam deste expediente estão praticando a cultura da exclusão. Esta exclusão escolar alimenta a exclusão social, sejam lá quais forem os motivos nas quais se fundamentem os pedagogos. Antigamente, os leprosos eram excluídos da sociedade por não conhecerem na época os tratamentos que hoje são praticados.

  2. Desenvolver e promover a cultura da inclusão de alunos regularmente matriculados através de medidas de adoção daquele aluno que seria expulso (por não fazer a lição, não estar de uniforme, perturbar o bom andamento da aula, confrontar autoridade pessoal dos pedagogos, etc.). O líder pedagógico e professores em geral poderiam estimular os alunos a adotarem alunos perturbadores. Poderiam acolher colegas voluntários que pudessem funcionar como tutores pessoais dos alunos em defasagem para ajudá-los a serem incluídos.

Não será por uma recomendação legal que os alunos que apresentam algumas deficiências serão incluídos em salas de aulas regulares, pois estes alunos sentir-se-ão mais excluídos se não receberem os cuidados de que realmente precisam. A inclusão será natural quando os professores forem capacitados para trabalharem também com as diferenças pedagógicas já no seu currículo de formação acadêmica ou como atualização obrigatória dos professores já formados.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Intolerância religiosa nas Escolas

Pesquisa mostra que intolerância religiosa ainda está presente em escolas brasileiras

Heliana Frazão
Especial para UOL Educação
Em Salvador

Profissionais “despreparados” para lidar com religiões diferentes. Invasão de terreiros. Ofensas. Crianças isoladas por colegas e professores. Esses são alguns dos problemas encontrados por uma pesquisadora que visitou escolas de vários Estados do país e constatou que a intolerância religiosa em estabelecimentos de ensino é um problema grave e ainda invisível para as autoridades e a sociedade.

A pesquisadora Denise Carreira revela ter percebido certo “despreparo” dos profissionais de educação para lidar com o problema. Ela identificou que a principal fonte de discriminação são as religiões neopentecostais, que, segundo Denise, historicamente usam métodos de “demonização” para com algumas seitas.

Denise afirma ter observado em suas viagens casos de crianças, famílias e professores adeptos de religiões de matriz africana, como candomblé e umbanda, discriminados e hostilizados no seu cotidiano. Algumas crianças chegam a ser transferidas ou até mesmo abandonam a escola em razão da discriminação.

“Existem ocorrências de violência física (socos e até apedrejamento) contra estudantes; demissão ou afastamento de profissionais de educação adeptos de religiões de matriz africana ou que abordaram conteúdos dessas religiões em classe; proibição de uso de livros e do ensino da capoeira em espaço escolar; desigualdade no acesso a dependências escolares por parte de lideranças religiosas; omissão diante da discriminação ou abuso de atribuições por parte de professores e diretores etc”, diz.

“São muitos casos e isso é, também, uma violência para com os direitos humanos, embora constitua uma agenda invisível na política educacional no Brasil”, afirma. As denúncias, sustenta Denise, mostram que as atitudes discriminatórias vêm aumentando em decorrência do crescimento de determinados grupos neopentecostais, principalmente nas periferias das cidades, e do poder que eles têm midiático.

O relatório, que será divulgado no dia 19, no Rio de Janeiro, e encaminhado a organismos internacionais, incluindo a Organização das Nações Unidas (ONU), traz recomendações para a resolução do problema. Uma das ferramentas para fazer frente ao problema, de acordo com relatora, é a implementação da lei federal 10.639/2003, que tornou obrigatório o ensino da história e da cultura africana e afro-brasileira em toda a educação básica.

Experiência própria

Jandira Santana Mawusi, estudante do curso de pedagogia na Uneb (Universidade Estadual da Bahia), e coordenadora de um curso pré-vestibular em uma escola municipal no bairro do Engenho Velho da Federação, em Salvador, conhece esse tipo de discriminação por experiência própria. “Desde que falei que sou de candomblé, os meus colegas de sala de aula mudaram comigo. Tenho dificuldade para me integrar aos grupos de estudo, e eles me olham como se fosse uma pessoa diferente, capaz de lhes fazer algum mal”, afirma.

Segundo ela, na escola onde leciona, diariamente, o diretor convida a todos para rezar o “Pai Nosso” antes das aulas. “Certo dia, ele me convidou a me juntar aos demais na oração. Então, perguntei se eu também poderia rezar para xangô. Ele respondeu que não porque não daria tempo”, conta.

Jandira diz que a mãe de duas crianças que estudaram nessa mesma escola recorreu ao Ministério Público porque suas filhas foram apontadas como “possuídas” por um professor, por serem de candomblé.

Não raro, diz ela, pessoas iniciadas temem revelar suas crenças. “Há pouco tempo, fazendo uma pesquisa no bairro, perguntei a uma senhora, dona de um terreiro, qual era a sua religião. Fiquei um tempo sem resposta. Indaguei a razão do seu silêncio e ela me disse que se devia à intolerância predominante.”

Atuando há mais de 10 anos na formação de profissionais para evitar intolerâncias racial e sexual e outras, membros do Ceafro (Educação e Profissionalização para a Igualdade Racial e de Gênero) mostraram-se chocados com a seriedade dos depoimentos colhidos por Denise.

"Não é novidade"

“Para nós, esse tema não é novidade. Mas, devo reconhecer, foi impactante ouvir os relatos de professores e mães de alunos que tiveram problemas. Doeu ouvir de alunos, por exemplo, que fizeram ‘santo’, e, tendo que usar roupas brancas, andaram com a cabeça raspada, foram taxados de ‘filho de diabo’, entre outras aberrações a que foram submetidos, ao ponto de não quererem mais voltar para a escola ou quererem abandonar o candomblé”, conta Ceres Santos, coordenadora executiva do Ceafro. “É muito grave”, diz.

Denise Carreira esteve na Bahia entre os dias 9 e11 de agosto. Ouviu o Ministério Público Estadual, as secretarias de Educação e Reparação, representantes dos terreiros de candomblé e outras lideranças religiosas. Segundo ela, as visitas ocorreram em Estados como Rio, São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná.

O relatório será apresentado também ao Congresso Nacional, ao Conselho Nacional de Educação, Ministério Público Federal, autoridades educacionais, e instâncias internacionais de direitos humanos.

Fonte: UOL Educação.

sábado, 4 de setembro de 2010

Construtivismo

Construtivismo

O método não é tudo


Pensador espanhol relativiza importância dos métodos de ensino e ressalta que estes não podem ser desvinculados do contexto cultural do aprendiz. A família, diz ele, pode fazer a diferença

Com olhos voltados à questão do desenvolvimento cognitivo e suas relações com a educação, o pesquisador espanhol Mario Carretero, atualmente vinculado à Universidade Autônoma de Madri e à Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso, Buenos Aires), transita por várias áreas do conhecimento, da psicologia à história, passando pelas ciências naturais e sociais.

Pensador identificado com o construtivismo, autor de Construtivismo e educação (1996, com nova edição prevista para este ano pela Autêntica), e do recém-lançado Documentos de identidade - A construção da memória histórica em um mundo globalizado (Artmed), Carretero desconstrói, na entrevista concedida ao editor Rubem Barros, algumas críticas frágeis a práticas derivadas da teoria cognitiva que advoga. E, em contrapartida, alerta os docentes que professam o construtivismo para erros interpretativos recorrentes.

No Brasil, uma crítica recorrente à adoção de métodos derivados do construtivismo é a de que pouco se sabe sobre essa teoria da aprendizagem e de que ela é adotada com simplificações grosseiras. Isso é verdadeiro?
Conheço o Brasil e o que os professores estão fazendo, pois dei aulas durante três anos em diferentes cidades do país. Também fiz visitas a universidades e fui convidado para muitos congressos. É importante fazer uma distinção: uma coisa é falarmos da educação no Brasil no todo - e o Brasil é um país muito grande - e outra, diferente, é falarmos de uma certa quantidade de escolas, ou da aplicação de métodos em um determinado número de cidades, algo provavelmente mais relacionado a grupos de pesquisa ou de inovação. Estaríamos falando então de um número importante, mas não se pode dizer que isso represente o Brasil todo. Faço essa distinção porque nas discussões sobre o construtivismo, no Brasil e em outros países, essa diferença não é levada em conta. Uma coisa é falarmos de um aspecto do ensino, seja a leitura e a escrita, ou qualquer outro. Outra é falarmos de política educacional, que diz respeito a toda a população escolar. É o está refletido, por exemplo, nas avaliações internacionais, como o Pisa e outras, que dizem respeito aos resultados educacionais de toda a população estudantil de um país. Outra coisa é quando falamos de tendências, de algumas pesquisas. Nesses casos, não podemos falar do país todo, e sim de direções, do que achamos que é melhor ou pior para a educação, mas que não temos certeza de que seja realmente representativo de toda a população. Essa distinção é muito importante do ponto de vista teórico e empírico.

Feita a ressalva...
O termo construtivismo é muito genérico. Quando falamos de construtivismo, estamos fazendo uma consideração crítica sobre o construtivismo aplicado em sala de aula. Não podemos dizer apenas se está sendo bem ou mal aplicado, se é bom ou mau, isso não tem nenhuma utilidade. Temos de analisar com mais precisão. Do que falamos? De leitura e escrita nos primeiros anos? Do ensino da língua nos anos posteriores? Do ensino das ciências sociais ou da história? Da ciência? Uma parte muito importante do debate internacional em relação ao construtivismo, por exemplo, se deu na área do ensino de ciências nos anos que equivalem ao fundamental 2 no Brasil. As discussões internacionais sobre as aplicações do construtivismo hoje são muito grandes. Então, temos de diferenciar a questão do ensino de escrita e leitura nos primeiros anos e uma outra coisa, mais geral, que é a discussão sobre o construtivismo.

No Brasil, temos os radicais do método fônico e os radicais construtivistas. Há vida no meio termo?
A posição de que o conhecimento é construído não é algo sobre o que se tenham muitas dúvidas hoje no mundo. Podemos demonstrar, por índices quantitativos de influência de teorias no mundo acadêmico, que o construtivismo é um ponto de referência, uma grande influência em universidades como Harvard, Cambridge e outros lugares importantes em termos de pesquisa. Em geral, existe um consenso de que as crianças de 5, 6, 7 anos aprendem a relação entre fonema e grafema, por exemplo, de diferentes maneiras. Particularmente, estou numa posição intermediária entre as duas que você citou. Mas é uma questão ainda em discussão, não temos uma segurança total de que esse processo cognitivo é feito apenas de uma maneira.

Mas é uma construção cultural, e não um processo natural, não?
A leitura e a escrita, sem dúvida nenhuma, são processos muito artificiais, nenhuma cultura no planeta desenvolveu sozinha esta capacidade. São capacidades desenvolvidas apenas nas sociedades que têm escola. Outra coisa importante é o contexto em que esta capacidade é ensinada pela escola, e há aí uma distinção muito grande. As pesquisas, na maior parte das vezes, são realizadas em um contexto experimental, de laboratório, acompanhando os meninos individualmente, ou num contexto em que propõem modificações específicas em suas tarefas, analisando como conseguir melhores resultados mais rapidamente, por exemplo. Mas o que aparece nesse tipo de pesquisa não é a situação da escola, e sim algo que atende a essas especificidades. A escola sempre está em um determinado contexto social. Então, quando se faz uma crítica aos métodos construtivistas, muitas vezes são críticas às técnicas, às ações específicas para ensinar relações como fonema-grafema, ou entre letra e palavra, a forma escrita etc. Mas isso não é a única coisa que o construtivismo está operando. Ele opera também o respeito pela criança, a partir da ideia de que o docente tem de conhecer o desenvolvimento dela, tem de considerar como está processando o conhecimento. Ou seja, é preciso que se coloque uma situação social de diálogo com a criança. Isso é importantíssimo, pois as crianças que vivem num contexto de pobreza, em que os pais não têm livros ou material escrito, têm um ponto de partida completamente diferente daquelas de classe média, cujos pais leem livros e jornais. Pesquisas feitas mundo afora mostram que uma das variáveis mais importantes na aprendizagem de leitura e escrita são os pais.

Em função do ambiente cultural?
Independente do meio socioeconômico, o fato de os pais acompanharem as atividades de escrita e leitura dos filhos tem uma influência decisiva. Então, falar que um método ou outro é melhor em sala de aula, excluindo o contexto social e econômico, é completamente absurdo. Retomo o que dizia antes: não é possível fazer críticas ao construtivismo sem levar em conta as políticas educativas. Se uma população fracassa na aprendizagem de leitura e escrita, temos de levar em conta as condições sociais em que isso ocorre. É absurdo acreditar que o sucesso ou não desse processo depende somente de uma técnica ou método que está sendo aplicado em sala de aula. A maioria das avaliações internacionais mostra que os índices mais importantes que estão afetando os resultados da escola no mundo todo são os índices socioeconômicos e culturais, a participação das famílias nesse processo. Por exemplo, a renda per capita nos Estados Unidos é quase a mesma do Japão, mas as crianças japonesas têm um rendimento mais alto. Isso se deve ao fato de as famílias japonesas exercerem uma influência muito maior sobre elas, para o bem e para o mal.

Nos últimos 20 anos, a escola brasileira incorporou muitos alunos de famílias não letradas, com poucas condições de fazer esse acompanhamento. Como fazer dessas crianças pais participativos no futuro?
Há muitas experiências, na Europa, de sistemas educativos que tiveram uma melhora substantiva. Nos últimos 10 anos, os casos mais significativos, segundo o Pisa, são a Finlândia e a Polônia. Neste último caso, as conclusões são muito interessantes, pois a Polônia não tem um investimento no sistema educacional maior que o de outros países. O que fizeram foi desenvolver um conjunto de iniciativas destinadas à implicação das famílias no sistema educacional, e isso produziu um efeito bastante grande. Na questão do ensino de leitura e escrita, é importante que a criança, nas etapas iniciais desse processo, encontre sentido no que está sendo ensinado. Há uma pesquisadora com quem colaborei, Lauren Resnick, da Universidade de Pittsburgh, que em termos gerais pode ser considerada construtivista e que dirigiu de 1977 a 2008 o Learning Research and Development Center, e também foi diretora de um instituto de aplicação das teorias na realidade educativa. Ela faz uma associação interessante: diz que uma criança aprendendo a ler e a escrever é como um cofre do qual não se conhece a combinação. Nesse período, ela não entende que a junção de M + A e M + A, ou seja, eme, a, eme, a, dos sons dessas letras, vai resultar em MAMÁ (mamãe, em espanhol). Essa é uma chave que, segundo Resnick, a criança tem de encontrar a partir de uma combinação de regras, de instruções, que é muito artificial, não natural, e ela só terá a possibilidade de reconhecê-las, de usá-las, de as colocar em funcionamento, se isso vier acompanhado de um sentido.

A escola cria artificialidades para abordar o conhecimento. É possível fugir disso? Esse não seria um de seus grandes desafios?
Uma criança com um nível socioeconômico ruim, por exemplo, pode encontrar soluções para questões difíceis. Mas se esses problemas ou funções ou atividades tiverem um sentido em seu contexto. Concordo com algumas críticas ao construtivismo - e não tenho problema nenhum para falar disso, pois me considero um pesquisador
construtivista -, mas uma coisa é o construtivismo como pesquisa e outra é quando essa pesquisa é aplicada em sala de aula. Concordo com a crítica de que, nessa segunda circunstância, muitas vezes os professores não estão levando em conta a importância das rotinas, da repetição para que os meninos aprendam algumas coisas e possam utilizá-las de forma rápida e eficaz no âmbito do ensino da escrita e da leitura, por exemplo.

E na matemática?
Também na matemática. Diferencio a compreensão da aprendizagem. Muitas vezes, o professor acha que, se a criança já compreendeu uma determinada noção, isso é suficiente. E não é. Essa ideia tem de ser mudada. É importante também a prática organizada, rotineira, mecanizada. A compreensão não assegura realmente a aprendizagem. Esta precisa também de um nível de prática organizada, sequenciada, para assegurá-la. O que acontece é que essa prática não pode se basear apenas na rotina, em algo vazio. Uma criança de classe média consegue passar, com seus pais ou na escola, meia hora se dedicando a esse tipo de atividades, pois tem o costume de fazer esse tipo de coisa mais artificial. Isso tem uma função para ela, um sentido futuro. Ela sabe que os pais vão valorizar os resultados, a avaliação que obtiver. Mas aquelas que estão em outra situação econômica, que não têm esse estímulo cultural, têm problemas para cumprir essa rotina, pois não significa coisa alguma para ela naquele momento e nem mesmo mais tarde. Muitas vezes, essas discussões entre os resultados de um e outro método não são tão relevantes. O mais importante é que haja um maior investimento no sistema educacional para que se consiga uma implicação maior das famílias nessas atividades iniciais de leitura e escrita.

Revista Educação - Edição 160.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Alunos de públicas que dizem ter matado aula é o dobro do das particulares

Total de alunos do 9º ano de públicas que dizem ter matado aula é o dobro do das particulares

IBGE traz números sobre alunos que faltam à aula sem os pais saberem

A PeNSE (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar) 2009, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostrou que o percentual de alunos de escolas públicas do 9º ano do ensino fundamental que admitiram ter matado escola nos 30 dias anteriores ao levantamento é mais que o dobro do das privadas. No total, 18,5% de todos eles faltaram às aulas sem autorização dos pais.

Segundo a pesquisa, divulgada na última sexta-feira (27), 20,7% dos estudantes da rede pública disseram que haviam matado aula, contra 10,1% dos das particulares. A cidade onde mais os alunos de públicas mataram aula foi Cuiabá (25%), seguido por Recife (24,9%) e Porto Alegre (24,2%). Dentre os da rede privada, as líderes do ranking são Palmas (18,2%), Boa Vista (15,9%) e Cuiabá (14,8%).

De acordo com o IBGE, a cidade onde menos os estudantes de instituições públicas de ensino disseram que haviam faltado aula sem autorização dos pais foi Rio Branco; entre as particulares, Porto Velho.

Quando se consideram todos os alunos, sejam eles de públicas ou particulares, Cuiabá continua na liderança dos faltosos, com 23,4%. Teresina é onde menos, no geral, os estudantes faltam sem autorização dos pais (12,4%).

Para a professora Inês Barbosa de Oliveira, da Faculdade de Educação da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), o problema não é a escola em si –mas as políticas públicas feitas para a educação. “A culpa não é da escola. O problema está na política educacional que torna a escola precária, na política geral do país que não garante emprego em quantidade necessária para os que estudam se colocarem no mercado de trabalho. Isso cria um círculo vicioso”, afirma.

Segundo Inês, um outro motivo é a própria dinâmica de controle de presenças. “Há aí um sistema de controle mais eficiente nas escolas particulares, porque os pais pagam também com a expectativa que se controle a frequência dos alunos com rigor. Tem um sistema mais eficaz na escola particular”, diz. Ela lembra também que, provavelmente, muitos alunos –de públicas e particulares– omitiram suas faltas.

Fonte: UOL Educação.